8 de julho de 2013

QUERO TE DAR, QUERO TE DAR

Sempre falei que o funk era o novo punk, nas letras, no comportamento, nas atitudes, no choque que ele causa a sociedade puritana. Não quero comparar os ritmos, são diferentes, muito menos falar de um posicionamento político. Não estamos em guerra contra outra nação, estamos vendo batalhas internas, disputas civis, protestos econômicos. E uma revolução sexual? Não vemos. 

Infelizmente o conservadorismo está vencendo a batalha no campo das sexualidades. Enquanto Valeska Popozuda sobe no palco e canta coisas como "Meu nome é Valeska e o sobrenome é Quero Dar, dadadadadadadadadada", o pastor Marcos Feliciano torna-se presidente da Comissão dos Direitos Humanos (CDH) e reúne os fiéis de todas as denominações evangélicas em torno do que é próprio da religião: o ódio. Afinal, a salvação só é alcançada se você se livrar do pecado. E o pecado muda de nome ao longo da história de acordo com a interpretação bíblica feita por cada época. 

SEXO E VIOLÊNCIA SÃO INDISSOCIÁVEIS

Assisti um vídeo de 2010 que pelo teor de violência não vou exibir, mas farei a descrição do que vi. É suficiente para causar horror nos leitores do blog. Não se sabe exatamente a origem dele, mas pelas características das pessoas e do local onde aconteceu, é possível chegar em algum país da África.

A cena sem cortes mostra um tribunal de rua, um homem com o tronco coberto de sangue sentado no centro de uma roda. Todos ao redor dele são homens também e negros. O que dizem não precisa ser traduzido, estão irados. Chutes e socos não são suficientes para acalmar aquele grupo. Um pneu é colocado no pescoço dele, joga-se líquido inflamável. Ele tira o pneu algumas vezes do pescoço. Ateiam foto. E o homem corre, cai, os carros passam buzinando, querem que o obstáculo seja removido. O fogo se apaga e temos a impressão que um dos carros passou em sua cabeça. Aquele homem não pediu ajuda a ninguém. Não sei o seu nome, não sei sua idade, não sei onde ele mora. Mas ele é um ser humano como eu. E está tendo seus direitos como pessoa negados. Segundo aqueles que o julgam, ele perdeu o direito a vida. 

Uma balcão desses de feira, bem rústico é usado para derrubá-lo. Ele não fala, não chora, só tem o instinto de sobrevivência a seu favor. Mas desiste. Se sente condenado também e as chamas o consomem.

A descrição do vídeo nos informa que o morto era homossexual e que em alguns países da África a religião evangélica é muito radical e chega a incentivar o ódio contra os gays. Pastores nãos dizem que os fiéis devem matar uma pessoa. Pq isso seria atentar contra Deus. Se ele está em todos os lugares e nos criou a sua imagem e semelhança, só podemos amar ao próximo como a nós mesmos por que nele existe a mesma centelha divina que existe em mim. É a forma mais simples de acabar com a violência: falar de amor, de compaixão, falar das semelhanças entre os homens. 

Então o amor entre duas mulheres, dois homens ou entre um homem e uma mulher não são iguais? O sentimento que nos aproxima e que preserva a vida, que constrói e melhora o mundo tem maneiras diferentes de se expressar mas é sempre positivo. E o contrário do amor, o que é senão a indiferença?

Marilena Chauí nos diz em sua fala sobre a CURA GAY que esse tema não pode ser tratado com deboche como vem acontecendo. O riso deveria ser uma arma para desconstruir o poder de um opressor, como fez Charles Chaplin ao criticar Hitler. Apensar disso, o humor bicha, como Jean Willys chamou, critica outros gays, criando rixas internas, separando pela maledicência, pela ironia, pela jocosidade. Quem nos levará a sério, se nós não nos respeitamos? Ouçam o que a filosofa tem a dizer e depois continuamos nossa conversa.


Quando falei sobre outro pastor no blog, falei seriamente. Falei em nome dos direitos humanos, falei em nome da preservação da vida em primeiro lugar e de uma qualidade para esta vida se desenvolver. Longe de opressão, de culpa, de ódio. 

Fiquei muito triste quando vi a reação das pessoas ao projeto de cura gay. Mensagens no Facebook diziam "Tenho um amigo gay e ele não precisa de cura. Precisa de um namorado". Uma mulher não só se sente realizada no casamento em sociedades machistas como a nossa. Em democracias igualitárias, elas se realizam no emprego, na carreira. Com os gays deveria acontecer o mesmo, mas mesmo aqueles que querem defender homossexuais, sem saber como lidar, associam o machismo que as mulheres sofrem ao papel de passivo e tornam os gays as mulheres da relação homossexual. 

Dizer que tem um amigo gay é uma forma de discriminação. Chamo meus amigos pelo nome e apresento eles como profissionais quando muito. Dizer que seu amigo é gay é tornar público o que é de fórum íntimo. Uma violência. Pior que essa, só as piadas que se fazem em torno do tema.


Chamar de viado o pastor que quer curar os gays é reforçar o preconceito que você diz que não tem. O xingamento é uma forma de demonstrar aquilo que mais você detesta, o que você joga contra o outro no sentido de diminuir sua moral. Quando chama o pastor de afeminado, passivo, viado ou qualquer coisa do tipo, está na verdade dizendo que é ruim ser viado, é mal visto ser passivo e que o pior que uma pessoa pode ser é afeminado.

Outro vídeo, desta vez foi um amigo que mostrou. Disse ele que era muito engraçado. Eu não ri.


A tradução deve ser mais leva que o original. Três homens vestidos como se fossem mulheres pregando ódio contra gays e chamado os passivos de idiotas, otários, porco. Aliás "sex pig" é uma expressão que ficou famosa no meio BDSM e quer dizer que o cara é um animal e com ele não deve-se ter compaixão. Destruir, eliminar, arrombar, quebrar e humilhar são pregações de ódio que resultam no homicídio que comentei acima, quando um homem foi espancado e incendiado na rua. 

Qual foi seu crime? Amar outro homem. Pensar diferente da maioria. Se era passivo ou ativo não importa, se era fetichista, froteurista, se era virgem, se era assexuado, se tinha namorado, família, amigos, sonhos... Se ele tinha uma religião. Se ele se aceitava, se ele se assumia, não importa.

Para quem condena, o que importa é que o fato dele ser homossexual o fazia menos humano que os demais.

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